quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Apocalipse

Não penso que o fim
será estrondoso.
Fim é sempre
silencioso.
Tal como lágrimas
ao caírem no chão,
uma paz
na noite
que aparentemente
oculta o
inferno.
O silêncio toca uma única
canção
muda e perigosa,
com efeito,
não de brisa do verão (calma),
mas como geada do inverno. (Estrondosa)



Andressa Liz

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Poeta das Ignorãças

Voava fora da asa
em cada mergulho na poesia.
Ensinava a voz das pedras,
inventava palavras,
e apenas o que era inventado podia ser verdadeiro.
Em sua carapaça de caramujo
enxergava horizontes
nas palavras que tecia sobre incompletudes.
Dizia estar sem eternidades,
mesmo em cada rascunho eternizando-se nas palavras.
Amanhecia folhas
entardecia rios,
como peixe,
morreu passarinho.




Andressa Liz





Manoel de Barros, 19 de dezembro de 1916 - 13 de novembro de 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Então Pronto

Quando escutei os sinos baterem
já percebi que era o outro dia
de ressaca
a única coisa que ouvia
eram gritos
choros.
E me dava conta
de que não poderia
voltar no tempo.
Mas pensei logo que
se o tempo ajudou a construir
talvez o mesmo
ajude a curar.
Desculpas,
eu devia.
Isso é tudo,
mas o perdão
nunca vem de imediato.
Desculpas,
então,
pronto.



Andressa Liz

Submergir sob silêncios em substâncias das estâncias submersas

Aprendi a ter raiva do silêncio
pois na candura das palavras
encontro conforto
Na ausência
eu sinto solidão.
Por isso a candura do silêncio
só existe quando breve
no momento em que olho nos olhos
no momento em que abraço
e me abstenho de palavras.
O silêncio bom quando efêmero
torna-se martírio quando permanece.
As palavras não ditas sufocam,
me fazem preferir a morte pela doença do risco
do que afogada em mágoas e receios
que dentro de nós perecem.



Andressa Liz

sábado, 8 de novembro de 2014

Para amar-me
não poderá
se assustar
com a transparência
da minha alma.


Liz

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Remorso

Meu amor não esperou
de tanto a queimar
virou cinzas.
Eis que o tempo esperava
a mudança que horas não via
e enclausurou-me
nessa dita opressão.
Não se justifica apenas com palavras,
nem sentimentos serão suficientes
É como perder o guarda-chuva
no meio da tempestade
estar ciente
e trair duas vezes o amor
quando delas pouco importa
a verdade.




Andressa Liz

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uneverso

As grafias que
rompem as barreiras
da tua galáxia
soam pertinentes como
a anatomia das estrelas
no céu
pontilhadas
onde no descobrir de traços
do teu corpo
imerge um bater de asas
do sufoco
daí surgem as palavras
enquanto tu quando voa
para longe
me leva através
de uma viagem
no tempo
distorcido
através do cosmos.



Andressa Liz

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Estagnada

Não fosse esse amor que inflama
não seria a dor que me chama
para o abismo.
Seriam horas em busca do vazio
em taças cheias de vinho
tão puras quanto o cinismo.
E se aflorassem lágrimas
não seriam tão pesadas
quanto as que carrego
agora
quando vejo teu sorriso
pouco antes da noite
que a mim
e a ti
devora.



Andressa Liz

A um gato - Dedicatória poética



Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és sobre a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende a morosa
Carícia de minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que hora é olvido.
Aceitaste o amor dessa mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.



Jorge Luís Borges


na foto: Dante Alighieri Draculea

domingo, 12 de outubro de 2014

Notas sobre o silêncio

O silêncio do indizível fala tanto quanto as palavras do texto ou a narrativa das imagens. Como em um toque de lábios, troca de olhares, abraços, aperto de mãos. A linguagem palpável é do desejo de estar perto ou da obrigação de parecer estar perto. O silêncio que teima existir afirma nesse exato momento que há muito para ser dito. Contudo o silêncio é tão contraditório que alega ser o que não é, enquanto omissas, as palavras ainda falam. Quando se vive dentro da linguagem, nem mesmo a prevalência do não dito nos permite a sensação de liberdade.



Andressa Liz

Anoitecer

Anoitecer foi escrito
no pesar das lágrimas
e ausências de beijos.
Foi feito no eterno desejo
do efêmero texto
enquanto são lidas as palavras.
E isso que crava
e cria raízes dentro de si
é nada senão amor
que nos perímetros da madrugada
deseja-se afastar do fim.




Andressa Liz

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Apaixonar-se

Como aquela tarde em que me atentei aos teus joelhos
Os fios de cabelo a trespassar por minhas mãos.
não precisava mais enxergar seu rosto ou seu sorriso
os joelhos bastavam.
Foi esse o momento em que me declarei perdida.




Andressa Liz
Fala como quem pensa me seduzir
Com floreios, desejos, sede de mim
Mas a tentativa de agrado
Pertinente
Me soa errado como palavras de amor
Do astuto sedutor que mente
Apenas por pensar em si.





Andressa Liz

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Sempre que chego a um lugar
me sinto à deriva.
Que velha sensação
senão a de jamais pertencer
a lugar algum
na tentativa de pertencer
a todos os lugares.
No entanto, talvez
seja a ambição de pertencer apenas a um lugar
por inteiro.
E o fracasso de se atirar nos abismos
e voltar em pedaços.



Liz

sábado, 4 de outubro de 2014

Do ato de proibir

Infeliz foi aquele
que falou além da boca
e perdeu-se.
Mais infeliz ainda
foi aquele que pensou
além do que temiam.
No entanto,
em sua tristeza
encontrou-se.



Andressa Liz




inspiração: A Vidraça do Amor, Antonin Artaud

Teia

Não aprendi a dizer adeus.
Apenas transito entre as tênues linhas
que nos aproximam e afastam.
A vida é feita de linhas que nos engolem
e nos prendem
bifurcações complexas da memória
em traços débeis,
Depois, em fim nos separam.
Talvez quando lá estiver
eu aprenda a dizer adeus.



Andressa Liz

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Não temos lado certo
ou lado errado
apenas lados que tememos
e outros que simples, agradam



Liz

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Insônia

quando,
na noite,
os pensamentos
falam demais.





Andressa Liz

sábado, 27 de setembro de 2014

Ausência

Passou-me o sorriso
a imagem estática daquele momento
gravada na cabeça
dissipou-se através do tempo
não vi teu rosto
não vi tua calma
apenas a demora,
e no relógio a hora
que me separa do dia.
Desejei aquela presença
o efêmero sorriso que transborda
as nuances da noite em meu rosto
Não é como fogo que queima
apenas inquietude que incomoda
quando lembro da presença
que me acompanha, solitária
noite a dentro.



Andressa Liz

Coisas

Sempre achei que bons poemas
Deveriam ter títulos simples
Como o som da chuva
caindo no telhado.
É porque não penso que existam coisas
Senão coisas simples que são
A início apenas o que vemos que são
Por isso vinhos são uvas
Florestas são árvores
E jardins são flores.
Não seriam constelações as estrelas que não fossem átomos
Nem nós seriamos nós se não fôssemos estrelas.
Por isso a chuva cai no telhado
e as palavras e seu significado
São as coisas várias que transitam
De mim ao teu lado.
E o sentido em suma
Preservado em poucas palavras
Se conecta com as coisas várias
Que são minhas infinitas.
Por isso escrevo,
Não seria eu se não fossem flores
Nem vinhos se não fossem árvores,
Nem florestas se não fossem uvas
E ainda jardins se não fossem estrelas.
As coisas são sempre apenas coisas
Em meus vários escritos
E seus diversos significados
Eu sou apenas eu
E nós somos apenas nós.


Andressa Liz

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Damascos

Já escrevi uns tantos quais poemas
Nenhum deles me saceia,
No entanto, quanto pranto
Me restam as palavras.
Disse-me uma vez que
Gostava de damascos
Hoje os vejo na geladeira
Mas não os como.
E acordo, quando noite
Não sei o que sonhei
Mas sinto que aconteceu
E de olhos abertos fico mais calma
Não era o que eu pensava.
A noite prega peças,
Não fosse o ar quente do cerrado
Ainda estaria sonhando.
E por fim o que faço
Escrevo poemas, quando posso
Quanto aos damascos na geladeira,
Apenas não os toco.



Andressa Liz

domingo, 21 de setembro de 2014

Setembro

"Os dias são curtos e as noites são longas,
ambas as coisas me levam a sorrir.
Te amo. Estamos em setembro"
Escreveu-me,
a pessoa que deu origem à minha história
e comigo conviveu durante minhas piores tormentas.
O mar nunca esteve calmo,
mas já é quase primavera
e a brisa fresca da manhã
de hora em hora é o suficiente para nos tranquilizar.
Por vezes que leio, choro
penso que deveria partir
mas quando vou eu imploro para voltar.
E quando essa pessoa se for,
não terei mais como voltar,
porque voltar, pra onde voltar
ficaria para sempre perdida em meio as tormentas
insistindo na convivência perfeita
quando nela não há nunca perfeição.
O tempo seria perdido,
se algum dia eu de fato ir;
Em meio aos destroços permanecem os risos
e apenas por eles eu consigo ficar
por mais que os dias virem noites
e palavras se tornem arrependimentos.
Eu te amo, nunca respondi
mas ainda estamos em setembro.


Andressa Liz

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Natureza-morta

Era o amor que transitava
entre sorrisos e lágrimas
cravado na eternidade
das coisas efêmeras.
Era o teu riso que aqui chegava
pouco tempo antes de tu partir
e as palavras que ecoavam na minha cabeça
gritavam onde apenas eu poderia escutar.
Eram palavras presas na garganta
o instante exato onde eu vivia
pouco antes de morrer.
Era o amor que transitava
na linha tênue
da vida e da morte
Então aprendi que amar efemeridades é amar fora do tempo,
ilimitadamente,
amei teu riso,
amei minhas lágrimas,
amei sua presença
tanto quanto tua ausência
e enquanto vivia e morria
me encontrava
fora do tempo.




Andressa Liz

domingo, 14 de setembro de 2014

Café

O café custava algumas moedas
mas o cansaço vinha de brinde
O que tentar esconder com preocupações travestidas de insônia?
O longo monólogo das vozes ecoando em minha cabeça
Quantos ouvidos surdos a procurar por minha companhia
Mal percebiam eles o quanto eu gritava em todos os meus silêncios.
Diluí o açúcar no café
Não quis sentir o gosto amargo que me mantinha acordada
Era como a vida, tomar café.



Andressa Liz

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Hoje coloquei açúcar no café.
A vida já estava amarga demais, pensei.




Andressa Liz
Têm pessoas, que
entre uvas e morangos
eu prefiro peras.


Andressa Liz

domingo, 31 de agosto de 2014

Estou no meu . Final ponto


Liz

domingo, 24 de agosto de 2014

Solilóquio

   Hoje me atentei aos detalhes do lapso de comunicação e em como todos sempre tem muito a dizer e pouco a ouvir. Praticamente ninguém nunca se dispõe a aguçar os ouvidos pro que o outro tem a dizer e sutilmente as conversas viram meros discursos banais e insossos que, em um próximo momento, ninguem mais dialoga. Nos atentamos aos discursos corriqueiros e isso nos frustra. A atenção não está nas palavras.
   Todos consentiriam com a nova forma do fascismo cosmético sem mesmo saber do que o assunto se trata. Logo mais a sinceridade se torna inconveniente, a forma de pensar e o que se é acaba se perdendo no processo do esvaziamento. A opinião se torna ofensa e a sinceridade um disparate pra guerra. Na totalidade todos acabam perdendo durante o processo ainda que haja um vencedor.
    As discussões ideológicas despertam o ódio ao invés da mudança ainda que instiguem o necessário. Olhamos para pessoas com medo de feri-las com palavras porque nos importamos, e no fim os sacrifícios viram mártir pra nós mesmos. Ninguém se importa com a importância dada. Ninguém se importa com as palavras e nem com o poder do diálogo, ninguém busca por respostas e nem mesmo por sentimentos. Ninguém se dispõe a sair da condição masoquista pra pensar em algo que não se resuma a si mesmo e na dor abstrata egocêntrica. Ninguém mais arrisca demonstrar o que sente ou ter a veemência da sinceridade.
   Os poucos que o fazem estão perdendo a comunicação, entrando em extinção. Há o medo que permeia a instabilidade e me faz voltar pra caverna, para posteriormente reunir forças pra tentar sair e buscar novamente um ponto de esperança. A angústia que coexiste com nossos dias é apenas resultante da melancolia que nós mesmos criamos. Há quem busque algo a mais e isso sempre será admirável, mas já esperar demais se torna um martírio inconveniente enquanto sobrevivemos de esmolas.


Andressa Liz

domingo, 17 de agosto de 2014

A few words to say how I feel

If I could just stare at the mirror
and see trhough the broken glass
I would like to say that you
Is still what I have left

But if things always change
You and I have changed too
But I know, besides strange
That is the same what I feel for you

And if someday we finally met
I would just stand and look your eyes
Because I know that I can't forget
That you are near but are not mine.



Andressa Liz

sábado, 9 de agosto de 2014

O Silêncio

Nada mais que um
agudo de dor,
transtorno em vão,
suplício na alma
Vejo a mentira nos nossos olhos
enganar os espelhos
mas tirar-nos a calma
e trair-nos os beijos,
no lacônico furor da despedida,
os claros desejos da noite
enquanto escura desmedida
pedem por silêncio.
Observo a traição dos meus olhos
no reflexo vazio da lástima
pesar concreto de lágrima
a estatelar muda no chão.
O reflexo nos teus olhos
era o fogo ardendo em mim,
agrura de paixão.
É silencioso, o fim.
Silêncio.




Andressa Liz

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sutil Agradecimento

Há quem queira invadir meu espaço para por acaso se surpreender por encontrar meus sentimentos ainda soltos nas entrelinhas dos meus textos. Há quem irá se surpreender em como minha insistência é grande, e ainda em como resolvi ficar perdida no tempo. Há um tanto de sentimentalismo a permear as audaciosas linhas dos meus tolos poemas. Fatigando cada verso na mesma essência das mil personas que construí. Há quem venha me dizer que é bom o que por vezes escrevo e nas horas que releio me perco no achismo duvidoso das conclusões a tirar sobre mim mesma. Os textos ali claramente fazendo parte de mim em suas ficções, narrando fatos do pretérito perfeito e imperfeito. Há quem perceba a minha saudade pelos momentos que existiram em suas não existências. E há quem se canse da persona melancólica na persistência, ainda entre tantos escritos tantos, vislumbrados, e tanto perdidos nas páginas já escritas que constituem o tal Introscópico Eu.


Agradeço de coração os leitores, e ainda secretamente deixo uma ponta de saudade àqueles que permeiam meus poemas em suas referências e minhas quintessências, mas tudo meramente por amor.



Liz

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Porque eu não queria fazer soneto

Tentou pedir-me um soneto
pensei astutamente em algo
Alguns versos obsoletos
na mente por demais vagos

Sonetos são tão opressores
A métrica é o que desgasta
Penso em todos, escritores
De paciência assim tão vasta

Para escrever algo bom
não adianta formar só frases
Perdendo-as nas entrelinhas

Como música em tons graves,
Acertar um certo tom
Da inspiração que nunca vinha



Andressa Liz

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Céu

O beijo que transborda 
tua alma em minha boca
tem gosto de nuvem



Andressa Liz

Seu Tacanho

era tão pequeno, mas tão pequeno
que podia ser maior e não queria
Não era estranho,
pior,
era normal.




Andressa Liz




obs: vejo Seu Tacanho em vários lugares, cansei de ver o Seu Tacanho.

Vaga-lume

pisca
por acaso
pisca
pelo ocaso
vaga
só assim é visto
e assim, diferenciado.



Andressa Liz

Lusco-fusco

teu ser na minha presença
eu em minha consciência



Andressa Liz

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Introscopia

introscopicamente falando
introscópico ver de dentro
o que vem de dentro.
Introscopiar


Liz

As Ondas

Será que tu sobreviverá às ondas?
Ou talvez seja o retrocesso da maresia
não estive pronta
não foi nada o que era
salgado demais
mas as tormentas no meu interior
criaram furacões.

Seremos os mesmos amanhã?
Ou mudaremos para não sermos o que fomos antes
sendo nós mesmos agora

Em ti, o meu espelho
partido por sentimentos de azar
e não anos que se arrastam sem sentido
para tentar dar forma
ao que gostaria de ser amanhã.

O sol tece seu percurso sob o mar
amar, eu-me-ei se na velhice
não eu, mas nós-nos-emos
se solidão.

O meu espelho de ti passado
quebrado percebo
que preciso de tempo
para me recompor em outro objeto.

Sentimento concreto é palpável
pelas tuas mãos.

Mas o meu silêncio perpetuará
os próximos dias de maresia
que podem durar anos de azar
pelo meu espelho quebrado,
mas a água transparente
ainda reflete a minha tormenta.

Sobreviverei às ondas?
Nada posso por ti
se nada poderei
por mim, além do que serei.

Não, morrerei!
Como o dia através do céu
vira noite.



Andressa Liz

terça-feira, 22 de julho de 2014

A vida do poeta é para ser invadida, tal como este invade os corações alheios a procura de algo para colocar em seus poemas.
Não tenha medo de entrar, minhas portas estão sempre abertas, mas tome cuidado pra não se perder no meio da bagunça.



Liz

sábado, 12 de julho de 2014

Palavras e poemas

Se me engano
com todos esses amores efêmeros
bem sei que no fim
talvez não consiga ter o que queira.
Não é um motivo para desistir,
apenas um desabafo
em forma de versos.
O que busco em meio aos meus riscos
é apenas uma chance
de conseguir me enganar
pois se no fim eu não conseguir
o que tanto quero,
ao menos me dei outra chance
de amar.
Pode não significar muito,
ora significar tudo
e no desenrolar dessa história
fica o sentimento mudo
em palavras e poemas.


Andressa Liz

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A minha densidade inundou o teu vazio
E tu se afogou na minha profundidade.

Deixou a verdade pendendo por um fio

Era tudo mentira, no fim
Por medo de mim, fugiu.




Andressa Liz

terça-feira, 8 de julho de 2014

Um tempo

Pedem um tempo
e tu finalmente percebe
que não adianta perder o tempo
com propostas vagas
e angústias insossas
para proporcionar tempo a alguém
que não se importa.
Pedem um tempo
e tu se da conta
que quem perde tempo
é ninguém além de si mesmo.
Perdem um tempo
e uma oportunidade de ser feliz
pela indecisão clara.
O medo promíscuo da sinceridade
pede passagem pelos apertos
do coração.
Pedem um tempo
Perdem um tempo
E tu se perde no tempo
que pede por um fim.



Andressa Liz


segunda-feira, 7 de julho de 2014

"E pouco a pouco, as dores viram água, viram memória. As memórias vão com o tempo, se desfazem, mas algumas não encontram consolo, só algum alívio nas pequenas brechas da poesia."




Filme: Elena, 2012

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Bem-te-vi

Bem-te-vis barulhentos
naquele início de tarde
que nos encontramos
e bem te vi
O casal de pássaros
pousou na árvore ao nosso lado.

Essas últimas semanas
Mal te vi por aqui

e hoje mal te vejo em qualquer lugar.



Andressa Liz

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Quartos

A verdade é tão nua
quanto eu despida de minhas roupas
coberta apenas por meus devaneios efêmeros
e minha imaginação fértil
Coração palpitando sentimentos
em alguns quartos na minha vida
sendo que apenas vivi um quarto dela
sabe-se lá
nem isso
ou até mesmo mais.



Andressa Liz

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Somos muito
para ser apenas um só.


Liz
Andressa Liz

terça-feira, 24 de junho de 2014

Dor porque amo

Se dor porque vivo
escrevo porque amo
se amo porque vivo
escrevo porque dor
se vivo porque dor
amo porque escrevo
se escrevo por que vivo
dor porque amo.



Andressa Liz

No fim

Eu que soube te amar
e decifrar astutamente o teu ser
percebi no auto-desgaste inconstante
aptidão para um vazio eterno de solidão.
Não há aconchego nos teus olhares
nem palavras a saírem da tua boca.
A frieza é imprescindível
e teu calor inacessível,
uma prisão para o meu anseio
em te desejar
e assim me sinto livre
para simplesmente amar.
Em cada sinceridade das minhas palavras
Vi o medo a tingir tua alma
afastar de ti o meu querer
na distância que cresce em teu pesar.
Ora se estou tão próxima do fim
não há porque zelar pelo cuidado
Nem há motivos para reverter minha paixão
ao nada.
Nós que estamos juntos, estaremos sós
nós que estamos sós, estaremos juntos
E mais do que isso
destrocei todos os vazios em versos
sob meu mais profundo caos
e destrinchei as palavras que te assustam
todas as que mais teme ouvir
pelo pesar da consciência
por já não querer mais sentir.
Não há liberdade na solidão
de quem se prende ao profundo medo
mas há paz na compreensão
de quem ainda ama.
Esse é meu segredo
temendo revelar a ti
e te afastar de vez
por conta do meu apego
Se assim, tanto fez
talvez ainda me queira
no fim.

No entanto, irei
embora


Liz

Inconstantes

O amor que se desenvolve
naturalmente
por vez sincero, assusta
afasta e distancia
já que nunca mente
e por tamanha força
não dura
mais que alguns momentos
embora seja de eterna tortura
para certos sentimentos.
A dor incessante
que o torna brevemente
impossível
por mais presente constância
também o torna
astutamente
acessível.



Andressa Liz

Nós que podíamos ser tudo
já não somos mais nada
tu que podia ser meu mundo
decidiu em poucas palavras

que já não mais queria.



Liz

domingo, 22 de junho de 2014

Um só nada

Como fugir
desse eterno vazio,
essa eterna condição
na qual sentenciamos a nós mesmos
em um caos interno
de profundo sistemático nada?
Como poder tomar todas as dores
sinceras
problemáticas em esferas circulares?
Fim de mundo
refletido em sonhos
e o inconsciente já sujeito à inércia.
Caos vazio
e lágrimas que despencam dos olhos
tempestades que secam desertos
Angústia travestida de inconformação.
Como buscar
a dilacerante verdade em meio ao nada
afogar em mares de sentimentos,
ondas de pesadelo
a sempre torturar?
Como desatar nós
de uma vida complicada
sentenciada à morte lenta
sedenta por solidão.
Como acalmar a alma
despertar a calma
e controlar a chama
que queima nosso coração.

Um só caos
em um só nada.

Todos nós.



Andressa Liz



sábado, 21 de junho de 2014

Amor pela palavra

Toda poesia
deveria
ser feita
com amor
Pelo moço
pela moça
pela flor
pelo vento
pelo sentimento
(inconstância
ou
distância)
amor
pela
palavra.





A poesia é amar com palavras e amar as palavras que transbordam.

Andressa Liz

Utopia

se amor for utópico
e o tópico sentir
mesmo que sincero
ainda assim não existir
tu será
para sempre
minha
utopia
do futuro,
o passado
daquela dor que não existia.



Andressa Liz

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Não há nada
para se buscar
no prazer da dor
além de melancolia.



Liz

domingo, 15 de junho de 2014

Há poemas floreados
pelo receio de deixar claro
meus anseios consternados
e cruéis sentimentos
fadados ao meu caos interno.



Andressa Liz

Olhos morenos

Uma breve referência
das surpresas que a vida oferece
entre ruas alagadas
e florestas de concreto
onde não brotam esperanças
sendo o futuro sempre incerto.
Há uma linha tênue entre viver
e sentir-se vivo
Superfícies de contato frágeis
sensíveis ao tato
que ainda separam olhares.
Há um medo crescente
que dissemina a certa dor
da incerteza
e o tempo que nos trai fielmente
é um erro que mente em palavras fieis
que não consome mais que um beijo.
Minutos esvaídos em tragos
e estragos feitos em corações
claros sentimentos em expectativas
Sob perspectivas
perceptíveis nos olhos morenos
mais lindos que vi.


Andressa Liz

terça-feira, 3 de junho de 2014

A Mosca

Enquanto os animais fogem
temendo o teu rugido de leão
uma simples mosca
serenamente pousa
impertinente
em teu nariz.



Andressa Liz

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Não vou mentir
e dizer que todos os meus textos são pra ti
mas certamente
tudo o que ainda resta de mim
é
e sempre o foi



Liz
Há sempre algo errado
quando dizemos "eu te amo"
e recebemos "obrigado"


Andressa Liz

sábado, 31 de maio de 2014

E nos momentos que pareço não ter mais solução
tenho tuas palavras e a tua compreensão
o que obviamente me faz ter certeza
do quanto eu te amo e sou feliz por tua presença
Mesmo com intempéries,
mesmo com instabilidades,
não há nada em ti que não me atraia.
Se depois de tanto ainda perdura
Creio que há demais de ti por aqui
e ao menos um pouco de mim por aí
Nas noites da insônia que ainda tortura
e me deixam o ciúme tolo, talvez desnecessário
por nunca querer vê-lo partir.
E se há algum mal que me ocorra
saiba que é ínfimo perante a tua importância.
Temo que nada disso possa significar mais do que significa
um simples texto, com várias palavras
por mais que eu queira que isso signifique tudo
menos a distância.
Mas de todos os traumas que guardo
Por ti guardo algo muito mais profundo.
O meu eterno carinho
a minha imensa gratidão
e o maior amor do mundo.



agradecimentos da Liz para uma das pessoas mais importantes que conheci eternamente guardada com carinho no meu coração. Uma amizade sem precedentes.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

E quando a saudade bate
e me parte em dois?
Conto os dias e as horas
pra te abraçar depois
e dizer
que pelo menos nesses instante
nos pertencemos


Andressa Liz

Gostos particulares em caos vazio

Gosto de palavras pobres
gestos simples
e grandes sorrisos
Gosto do que sai da boca da sinceridade
por mais que doam as verdades
e sejam os sentimentos imprecisos.

Não gosto de atitudes nobres
que beiram a modéstia hipócrita
e estúpidos caprichos
Não gosto que confundam o liberalismo com a liberdade
Nem que comprem ansiedades
ao preço que se paga por lixo

Gosto do ser livre
e ainda mais do livre ser
que penosamente divide a angústia eterna
e a difícil dor da espera
com a sutileza da esperança
de amar ainda que sem ter

Penso que se um dia o caos se materializasse
não seria nada além de um profundo vazio
regendo o princípio de nossas dúvidas
como quem cala com classe
a nossa vida pendendo por um fio.



Andressa Liz

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Cheiro de mulher

Cheiro de mulher
gosto de perfume
cores de amora
e o som a tocar
uma melodia tão rosa
quanto as maçãs tão macias
junto ao rosto um olhar
de nota sol, azul como céu
arco-íris nos lençóis
pernas pêssegos aveludados
salada de frutas na boca
jardins de flores no chão
e pétalas a derramar os cabelos de verão
de lírios entre seios
doce suave canção
sustenidos e bemóis,
acordes harmônicos
entre as curvas de sua sinfonia
uma porta de quarto
entre noites de tristeza
a separar sua alegria.


Andressa Liz

Matar um pouco de nós

As vezes certas coisas precisam ter um fim
mas apenas
dentro de nós.
Evitar excessivas decepções particulares
e abrir novas janelas para apreciar o entardecer
Há tanto da vida lá fora que deixamos de prestigiar
por nos prendermos tanto dentro de nossas próprias angústias,
amarguradas escuridões.
Há tanto o que imaginar que poderíamos conhecer
mas o que realmente conheceríamos será outra coisa
Tal como há tantos problemas insolúveis e pertinentes
Criados pelas nossas maiores frustrações,
que não colaboram com mais nada e já não mais nos fortalecem.
Estes deveriam morrer...
E apenas essa morte é válida,
matar um pouco de nós para que isso não nos mate um pouco cada dia.
O que vive noutro já não nos cabe avaliar ou sentenciar.
Mas de nossas tristezas sabemos bem
E apenas esse sentir é suficiente para nos manter vivos.

A morte e a vida são opostas amigas que andam lado a lado.


Andressa Liz


terça-feira, 20 de maio de 2014

Caros amigos,

E se por acaso eu lembrar
daquela amizade
de anos e anos que julgava eterna?
Seria tolice esperar
que a esse ponto
após tanto tempo
a vida resolvesse separar
o que antes era sempre?

Há quem diga que amizades são pra toda hora
Eu, do fundo do coração posso dizer
que na verdade, nunca são.
Mas posso dizer que ainda são eternas.



Andressa Liz

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Notas sobre angústias

Sinto a frequente ansiedade que me devora as entranhas. Um momento de profundo desentendimento comigo mesma e a constante permanência do incômodo do meu próprio ser dentro do meu pensamento. Ora sei que não sou nada mais além de uma passageira dessas vivências efêmeras, ora não compreendo até quais lugares poderia chegar por meio dessas vias. A verdade é que já não penso mais por mim mesma, pois já não sei o que de tudo isso ainda faz parte de mim, estou aos pedaços por aí, jogada pelos cantos... vez carcaça para urubus, vez pedra preciosa inacessível. Sinto que me roubam cada dia mais esse pouco de mim que resta por aqui, sinto que expulsam cada dia mais esse pouco de mim que resta por aí. Sinto que não sou mais nada, que não pertenço a nada e que nunca pertencerei. Talvez inconstâncias do tempo, talvez o inconveniente da vida, talvez eu e meus devaneios tolos, ou sentimentos a torturar. Uma noite, um dia, uma semana, um ano, uma vida, já não sei, mas até saber não terei mais tempo e isso também me angustia.




Andressa Liz

domingo, 11 de maio de 2014

Se tu fosse nota

Se tu fosse nota,
tu seria sol
Se eu fosse nota,
seria teu bemol.


Andressa Liz

sábado, 10 de maio de 2014

Já fui longe para voltar

Já fui
                       


                           longe demais




                                                         para voltar




mas meu pensamento
em ti
aqui está.




Andressa Liz

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Verdes amargos

Sangramos aqui dentro
e o mundo sangra lá fora.
Nós perdidos na noite,
quando o sentimento aflora
- sentimentos vagos -
e o peso da incerteza
jovens astutos, demasiado verdes
portanto amargos




Andressa Liz

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Entropia

Um
caos
em ti
um
caos
em
mim

um nada estipulado
ou um tudo indefinido?

Apenas casos
e acasos
rasos
e caos
um dia, talvez
sempre um começo
e um fim

entropia.


Andressa Liz

domingo, 27 de abril de 2014

Enganou-se, meu bem
pensando que eu era calma,
Se não estou queimando por fora
é porque queimam-me a alma.





Andressa Liz

Um poema de amor efêmero

Teu sorriso aqueceu minha pele fria do vento gelado
mas ateou ainda mais fogo no meu coração
tenho tanto o que pensar
mas tudo o que penso tem sido em ti
e teus sorrisos, tuas graças, tuas caretas
A simpatia que me pegou desprevenida
e o calor que me aqueceu a alma.
Hei de dizer como querem que nos tornemos frios
icebergs solitários e superficiais
que escondem seu tamanho colossal
como nossos sentimentos.
Não consigo esconder o que sinto,
de nenhuma forma possível
meio inconsequente, louca ou talvez desequilibrada
o sentimento foi incerto
mas teu beijo foi bem certo
como escapar de algum abraço teu, ou do teu cheiro
que ainda está gravado em mim
tal como todas tuas palavras em meus pensamentos.
Eu sempre aceitei tudo que eu tinha
mas não me contento por não poder estar tão próxima de ti.
Compreendo todas essas situações
e as complicações do amor
todas as paixões efêmeras banais
ou sofrimento ou dor.
Os nossos momentos foram eternos
e passaria a noite toda ali nos teus braços
mesmo sabendo que esse 'nós' está bem distante de ser apenas nós
ansiedades, angústias
entre meus contentos por ainda podermos ser apenas nós
em alguns momentos.
Uma declaração boba, um carinho grande
uma saudadezinha alarmante pelo momento que acabou
o tchau que pareceu um adeus
não sei quando nos veremos,
nem sei as importâncias a serem dadas para o que restou de nós
Não sei mais o que restou de mim, depois desse dia
Mas há um tanto de ti por aqui agora
e definitivamente não sei o que fazer de tudo isso a essa hora,
lembranças, marcas, anseios e saudades.
Viver dia após dia nem sempre é fácil
mas não é como se tivéssemos escolhas.
Seremos complicações nos corações alheios
se antes formos complicações para nós mesmos.
O curioso é como sou indecisa para tudo
menos para saber que o que quero em meu coração é tua presença
enquanto tu decidido para tudo
complica-se com decisões de amores.
Enquanto isso, fico aqui no meu canto, devaneando
decifrando aromas, cores
olhares e sabores.
Todos vindos de ti, diretamente para meu pensamento
cravando-se aos poucos em meu coração.


Andressa Liz


quinta-feira, 24 de abril de 2014

terça-feira, 22 de abril de 2014

Uma nota sobre o amor

Não sejamos adeptos de uma ideologia que nos ensine como amar, seja ela livre ou monogâmica, sejamos adeptos da liberdade com que podemos criar e recriar nossas diversas relações de amor e possamos amar do nosso jeito quem amamos. Sem imposições alheias e sem escrúpulos ou determinismos, apenas amor. Rótulos existem para vender produtos.




by Liz
Por que insistimos tanto em ser o que não somos?
Ou por que temos tanto medo de perder o que não temos,
sendo quem não somos?
E o que somos?
Agindo sempre como se fôssemos algo a mais,
fomos pela metade
onde queríamos ser por inteiro
Agora, não somos nada.





Andressa Liz

Antes junto

Nós que somos nada agora
Hemos de ser outra hora tudo
Tu que foste rosa, chora
Este amor que foi tão bruto.

O silêncio da palavra, devora
A alma que foi tua, escuto
Vês a lua cheia, clamas
Outrora a noite fosse luto.

Hoje acende a chama, queima
Pétalas de flor por minuto
O amor que arde e sangra
Separado não amas, antes junto.


Andressa Liz

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Felicidade a dois

somos

met a des

met iculosas
a
des esperadamente

                                   


                                                     buscar


                                                                          essa

                                                                                                   

                                                                                         nossa


                                                                                                          distante.....


.
.
.
.
.
.
.
f             e              l               i            c               i               d             a             d             e


a dois
(passos)



Andressa Liz

Trocamos olhares
entre ecos do silêncio
e entre nós perdurou
um breve momento
de ansiedade
e sentimentos
que nos completam as metades
(talvez amor)



Andressa Liz

Trago mas não te trago

Trago um cigarro...
trago até um maço inteiro
e a fumaça se esvai
como a nossa memória
em um começo de janeiro.
Então trago mais
mas não te trago pra mim.
Será esse o fim
dessa nossa história?

O cigarro virou cinzas de um cinzeiro.





Andressa Liz

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Plástico

copos,
pratos,
garfos,
tratos,

descartáveis
e baratos
amores feitos de plástico
não se usa outra vez
pro lixo, por capricho
tanto faz,
tanto fez.



Andressa Liz

Indecifrável

Curioso esse teu silêncio
que me faz queimar por dentro
morrendo de ansiedade
em cada olhar teu.
As janelas da tua alma são escuras
opacas,
um mistério atrás da vastidão azul do céu
me tira a calma
onde posso ver, mas não enxergar
feito claridade em um breu.
A imagem indecifrável
me pegou de surpresa
poderia até ser engano
mas não posso fugir dos sonhos
temendo a certeza
de que desde já te amo.


Andressa Liz

terça-feira, 8 de abril de 2014

Vulcânico

que mentira fez romper em prantos
a memória velha gasta
a história perdida no tempo
esquecerás
esquecereis
querereis
partir
e nunca mais voltar
desta mágoa que consome
tua alma negra como a dor
escuro dia do meu amor.
Quererás voltar
mas terei partido.
Volte às chamas de saudade
e chames a calma
à tua espera
do outro lado do oceano
mares hediondos não chegaram à tua costa
Tuas costas como vulcões
entorpecidos pela serenata de esperanças
do que acreditara ter sido certo
se amor nunca é certo
em inconstâncias de vidas
perdidas
partidas
como nossos corações
eternamente em brasa
adormecidos
e nunca domados
em erupção,
hão de cuspir lava


Andressa Liz

Alma na lama

Alma
na
lama
faz a
mala
e parte...

para onde?

Limbo
ou marte?

ou ainda,
inferno vermelho
ardente escarlate
Terra

na lama tem terra
e tem alma no lodo.
A guerra
não espera
esse caminho todo.


Andressa Liz

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Vazios

Já não preciso da arte para preencher meus vazios
nem amores, nem cores, dores ou flores
Meus vazios são impreenchíveis
Como buracos negros,
engolem tudo em volta,
distorcem a matéria
desintegram sentimentos.
Mas a arte não torna a vida mais bela
a arte é bela por si só
não serve para preencher os tais buracos,
serve para nos criar vários mais
e nos levar a outra dimensão.
Deixa o vazio,
deixa o vazio
o mais profundo sentimento seria superficial
se pudesse simplesmente ser preenchido.
A arte não preenche, nem é preenchida
minha arte de viver, me faz também morrer.
Não,
não quero religiões
ou grandes coleções
vícios
amantes.
Quero o vazio da solidão
o prazer sutil da dor
inconstante
que nos afeta impiedosamente
mas nos faz viver e sentir que estamos vivos
a cada instante.
O vazio está em nós,
 faz parte de nós
deixe-o estar.
E quando a dor apertar
só abstrair, fingir não ligar.
Afinal, buracos negros regem universos
e são necessários para transformar mundos
avessos, versos
e ainda manter equilíbrios.
Os vazios são mutáveis
nos tiram a calma
se a arte não foi feita para preencher corações
nem tranquilizar a alma
nos fere por dentro e transforma
por fim, transborda.
Não há vida onde não existe sentimentos
ou dor
sejam eles meros devaneios efêmeros
ou eternos casos de amor.



Andressa Liz




"A arte foi feita para transformar, não para preencher ou embelezar, pois todos nós estamos em constante transformação. Logo, não há sentimentos para preencher se a arte foi feita pra incomodar, e nos fazer sentir ainda mais nosso eterno vazio. E assim, transbordar."

by Liz

domingo, 6 de abril de 2014

Os (nem tão) sutis anos que passam...

Vejo o dia, o tempo, o documento apontando minha mais nova idade, supostamente uma mudança brusca na vida dado os 18 anos que se concretizam agora. O que muda? Os cigarros que posso fumar para espantar o martírio do tempo fugaz como a fumaça do trago? A bebida que posso ingerir para afogar meu organismo mal metabolizado em uma poça de álcool, vinho, whisky, cerveja, a escolher? A responsabilidade que nos habilita adquirir direitos obrigatórios como cidadãos feitos?
O feitio da vida longe está de ser apenas uma data memorável, mas sim os anos que passam rápido em piscar de olhos. Os amores indigestos que nos perturbam nas madrugadas boêmias agora totalmente legalizadas por uma simples diferença de unidade na casa decimal. Sinto a essência do querer e poder, sutil, disfarçada com o embargo da consciência. Ah, essa vida sequelada de devaneios obscuros e agora concretizados. Não há diferenças marcantes da noite pro dia sentimentalmente perceptíveis, talvez pela instabilidade.
A distância nos afeta, curta no tempo ligeiro. Me faz ansiar, mais e mais para que passe. Sinto uma enorme vontade de envelhecer e ao mesmo tempo medo, medo do que o futuro e sabedoria nos proporciona. Os anos correm como balas que atravessam nossos corpos, cérebros, corações e nos deterioram a alma. Buracos profundos cravejados de estilhaço com sangue vermelho a escorrer. Sangramos aqui dentro e o mundo sangra lá fora. Nós, perdidos na noite, jovens astutos demasiado verdes, portanto amargos.
Há quem diga que a idade nos faz sábios, nos traz mudanças, nos acolhe com abraços e beijos e nos separam com empurrões e escarros. Escárnio da vida que abusa do nosso eterno defeito de não saber lidar com intermediários, futuros e equilíbrios.
Posso devanear a vontade agora, digerindo toda essa melancolia que vem de brinde junto com os cartões de parabenização e feliz aniversário. As mudanças veremos ao longo dos dias, umas felizes, outras nem tanto. Enquanto isso o sentimento ranzinza aflora sutil e intrinsecamente. No aguardo do que mais posso absorver desse disparar do relógio.


Andressa Liz 06/04/1996

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Mais um segundo, menos um segundo

Como posso ter calma
se a cada segundo que passa
é menos um segundo que tenho?
Como posso esperar
e aquietar a alma
se o tempo esvai como fumaça
em um trago de cigarro?

Quanto tempo o tempo leva
pra me dar tempo de ser
ou fazer o que eu quero?
Não sei se espero
um mero devaneio.

O que diria a paciência
quando não tenho mais minutos sobrando
no relógio da vida?
Uso o tempo alheio?
Já que os ponteiros não param
com goles de bebida.

Como posso não queimar sentimentos
vomitar palavras,
nem viver de angústias,
nem de tormentos
correr contra as horas,
e cometer vários erros,
nem criar demoras
ou adiantar os ponteiros?
Como posso não exagerar,
não me entregar ou arriscar?
Se tudo o que o tempo faz
é simplesmente passar...

e passa depressa
passa sem dó,
mas ainda enquanto espero
o risco é maior.



Andressa Liz

sábado, 29 de março de 2014

Nada além não

O 'não'cortou a noite
as palavras ditas rasgaram o vento
e o silêncio despertou meus pensamentos
congelo pelo frio ou congelo pela dor?
Mas eu soltei um riso frouxo
Abracei a decepção e fingi estar tudo bem
quando claramente não estava.
Mas era apenas uma dor
um corte de palavras
um corte de sentimentos
uma negação intransponível
seca como o vinho
tinto como o sangue subindo pela minha face
tingindo com rubor
a modéstia hipócrita
Ser mais uma vez menos que capaz
por gostar mais uma vez por demais
antecipada,
a noite calada
e meus esforços medíocres
se passando de soluções
quando claramente
tentei entregar meu coração
no momento em que previ
que nessa noite, não passará nada
além da dor.
E teu riso não transpõe minha paixão
inexplicável
além de astros
além de Deus
além de mim
pois eu me perdi mais uma vez
nas palavras, suas,
por culpa dos sentimentos,
meus.


Andressa Liz

segunda-feira, 24 de março de 2014

Já estou queimando dentro
não deixe que eu queime fora
pois por mais que eu perca controle
não gosto de ver flores em brasa
e amores virando cinzas.


Andressa Liz

sábado, 22 de março de 2014

Lua em Escorpião

um poema curto
profundo
obsceno
que parece apenas
mais um meu extremo
destrutivo talvez
mas o que me fez
não são só estrelas
veja bem
sou intensa
propensa a morrer
pelo meu próprio veneno
não entendo de limites
nem de luas e universos
O mundo é pequeno.
Mas aqui estou
definhando minha sentença
na lógica que restou
em apenas uma crença.


Andressa Liz

sexta-feira, 21 de março de 2014

Onde era flor agora passa trem

Vai, canta tua melodia
eu sou livre, sempre serei
mas o mundo é gaiola
sou pássaro também
se tu for cantar, saiba
que canto todo dia
e que ganho de tempo
se não agrado a ninguém.
Mas quando a noite chega
devagar ela vêm
passo como flor
e broto em ti, meu bem
como dama-da-noite
da noite, apenas
cheiro flor
não dor
como o dia de um refém.
Mas veja só como é
ser pássaro sem asa
sem árvore, sem casa
voando
voa mais além
mas que canto de noite
beija-flor não canta
nem beija mais flor
onde a brasa queimou
pra construir um trem.

Vai fumaça, trilho passa
não é flor, nem árvore, nem casa
depressa, bem depressa
a mata fica longe
saudade, lembrança
e eu reclamo, de pirraça
Não somos mais livres!



Andressa Liz

quarta-feira, 19 de março de 2014

Tua sombra
não é nada
na minha
escuridão.


Andressa Liz

Tudo ou nada

Sem amor eu não seria nada
bem queria ser nada
mais do que queria ser tudo
mas nada adianta
ser tudo
e não ser nada

Sem amor
não sou tudo
nem sou nada

Então preciso de amor
ainda que seja tudo
ou nada.


Andressa Liz

terça-feira, 18 de março de 2014

Angústia

A angústia
cresce
e me
decresce



Andressa Liz

quinta-feira, 13 de março de 2014

Uma noite

Ofende-me tua presença
em mar de prantos
A sensatez que murcha pétalas
flores de sal
em lágrimas de sonho
E o brilho do luar
não veste esperanças
de estrelas
A noite caiu na sensatez
murchou pétalas
no mar de presenças
prantos de ofensas
sal de flores
fim de mundo
No abismo de lágrimas
de sonho
de dor e vida
na morte das estrelas
na noite de esperanças
que rende
apenas mais uma lembrança
mais uns rabiscos no céu
de apenas uma noite


Andressa Liz

sexta-feira, 7 de março de 2014

A dança faz o que sou
Eu sou a dança.

Andressa Liz

O que dizer de todas estas mulheres?

Seios a mostra
sem perdão
sem resposta
Há ainda hoje
como quem dizia outrora
mal do sorriso na face
e da força que nele brota.
Há lágrimas de sangue
caída sobre os Homens
Capítulo cravado na história
a morte certa sem glória
sem voz,
sem ser,
sem nada.
Hoje viva vitória.
O que dizer de todas estas mulheres?
O que há para se dizer
De rosas belas com espinhos
o motivo para ser
e poder ser
um ser qualquer
tendo ainda escolhas
tornando-se mulher.
Ainda que haja pudores pelas ruas
abastados de moral
E choros,
e crianças
que não pedem para nascer
Pois há o que confunde
o cego e o real
ainda que a esperança
tente sempre renascer.
O que dizer então de todas estas mulheres?
dizer o que são
que o são
São mulheres.


Andressa Liz


Rosas

Tenho espinhos de rosas
cravados em minha pele
Antes belas vermelhas
apaixonadas
Hoje murchas, secas,
desbotadas.
Fazem parte de meu corpo
espetam-me a alma
mas florescem em meus poemas
enquanto brotam as palavras.


Andressa Liz

quinta-feira, 6 de março de 2014

Vermelho de Marte

O coração que me parte
e a saudade que bate
restitui a memória
Me destrói com a arte
o vermelho de marte
desconstrói a história
Eu sou dois
O que vem agora
e o que fui outra hora
não serei depois.
Mas de passagem
fui o fim do meu começo
pagando o mesmo preço
Por mais esta viagem.


Andressa Liz


domingo, 2 de março de 2014

Rouxinol

Do fogo dos meus dias
dançam os teus olhos
de claridade diáfana
nas frestas de sol
Os buracos dos botões
deixam sobrar espaços
nos esforços que faço
em vazios e solidões.
Rumo ao farol
que imita o raiar
em meio a escuridão
ilumina teu olhar
Como faz o rouxinol
e as melodias
no meio das tuas danças
no fogo dos meus dias.


Andressa Liz





"Um poeta é um rouxinol que se senta na escuridão e canta com doces sons para alegrar a sua própria solidão; os seus ouvintes são como homens encantados com a melodia de um músico invisível, que sentem que estão a ser movidos e suavizados, mas não sabem de onde ou porquê"

Percy Bysshe Shelley

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Partir

As vezes não há mais volta
mesmo se pudermos voltar
não mais seremos os mesmos
pois partir, significa mudar.

No entanto não significa esquecer
mesmo que as dores
nos ensinem a crescer
as lembranças ainda poderão nos matar



Andressa Liz
Não sou nada
Nunca serei nada
"Mas isso seria alguma determinação?"
E poderia haver
uma determinação melhor do que esta?


Andressa Liz

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

De que adianta amar as flores e arrancá-las sendo que um dia elas murcharão?
Com o tempo, vamos aprendendo que vale mais a pena visitar jardins. Não podemos carregar conosco tudo aquilo que amamos.


Andressa Liz

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Alguns diálogos sobre amor

"Eu sei. Eu bem sei que o amor destrói as pessoas."
"Não. O amor não destrói as pessoas. As pessoas destroem o amor."
"O amor existe para ser destruído?"
"O amor não existe quando se destrói."
"O amor ainda existe quando chega ao fim."
"Não ele. Nós existimos."
"Mesmo depois dele nos matar."
"Ele não nos mata. Nós nos matamos."
"Então eu não sei mais o que é o amor."
"Não imagino nem o que possa ser 'nós'. Mas há canecas quebradas pelo chão."
"Eu as quebrei."
"Pensei que tivesse sido o amor."
"Ele não existe mais."
"Nem nós."


Andressa Liz

Diálogos I

Um café.
Um rapaz observa uma moça sentada no balcão absorta em pensamentos.
Aproxima-se interessado

- Olá, posso lhe pagar um café?
A moça vira-se para ele, examina-o por alguns segundos indiferente
- Ficaria encantada que me pagasse um café.
O rapaz sorri sutilmente. A moça continua
- Mas isso não significaria que gostaria de falar contigo.


Andressa Liz

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Adieu

Há diálogos, há pessoas, há noites, há sentimentos que deveríamos poder simplesmente apagar dentro de nós. As coisas maravilhosas que vivenciamos adoram contribuir para nossa destruição futura. Não deveríamos nos apegar tanto a lembranças, são elas que podem facilmente nos destruir. O que daquilo foi real? O que ainda é real?
As ruas são quietas à noite. A memória fala mais alto. O vazio se estende pelo horizonte de concreto, há um farfalhar de árvores.
Cresce em mim uma vontade absurda de partir. Partir e nunca mais voltar. Mas eu voltarei. Talvez, talvez eu volte. As lembranças andam comigo por qualquer estrada ou avenida. Os rostos conhecidos estão se misturando e se perdendo em cada janela, em cada prédio. As vozes não cantam, gritam em uníssono a cada quarteirão ou esquina que passo. Adeus!

Adeus...


Andressa Liz

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Deveria Compreender...

Eu deveria compreender melhor essas efemeridades
O mal das idades
e os anos que passam rápido.
Deveria compreender melhor que nem tudo é como queremos
que os beijos não são eternos
e nem sempre ternos.
Deveria compreender melhor que decisões devem ser tomadas
e não são sempre fáceis
ir embora ou ficar
temer ou arriscar.
Deveria compreender melhor que tudo está ao nosso alcance
Se entendermos que não se pode fazer duas coisas
ao mesmo tempo
Ou estar em dois lugares
ao mesmo tempo
Enquanto não pudermos ser
duas pessoas
ao mesmo tempo.
Deveria compreender que devemos deixar as pessoas irem
quando já não quiserem mais ficar
Deixar a porta de casa aberta
mas não ceder para qualquer um entrar.
Deveria compreender que não se pode saber tudo
ou fazer tudo
ou querer tudo
Não se pode exigir dos outros
o que não querem fazer por eles mesmos.
Por fim, deveria compreender
que nem sempre somos sucessos
também somos fracassos
e a vida é feita disso
mesmo que não saibamos exatamente
o porquê.
Portanto, deveríamos compreender
que há coisas
que simplesmente
não podem ser compreendidas.

Andressa Liz


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Tua existência
Precede a tua essência
Portanto não posso destruir
os resquícios dela em mim
sem antes
te matar.

BANG!

Andressa Liz

Pequenos Infinitos

  As palavras não significam nada enquanto sentimentos são interpretados com distância. Não há importância em apenas uma estrela quando o céu escuro está repleto delas. O amor ás vezes se parece com as estrelas perdidas na imensidão do universo, sempre belo quando compartilhado. Apenas uma estrela não faria diferença em uma noite escura, passaria tão despercebida quanto o meu amor. Distante. Perdido na imensidão dos meus vazios. Teus vazios. Nossos vazios.
  A velha história oxidada por mentiras devoradoras de ilusões. Promessas Pérfidas. A caótica mente de quem deseja mais do que se pode alcançar em uma vida arrasadora de corações. As palavras proferidas viram veneno quando espalhadas sobre o ópio. Além do tempo, que já não mais existe. A raposa que se alimentou da presa debilitada adoeceu vagarosamente.
  Agora diante da imensa podridão deixada pelos rastros da tua presença se chocam os sentimentos antes fortalecidos e agora putrefatos. Padeço diante da mísera inconsequência do acaso mas sem arrependimentos pelo dito e afirmado. Deveria ser assim porque o foi e apenas isso basta. A justificativa está no mal entendido e na tua vasta incompreensão fétida, tanto pelas verdades quanto pelas mentiras proferidas.
  Não se pode acertar sempre e nem estufar o peito de certezas, porém sentimentos criados e nutridos prevalecem reais. Aquém de nós estava esse amor. E impiedosamente as palavras tentaram ferir quem já há muito cansava-se de presenciar sempre a mesma sequencia de episódios trágicos. Já não me importava pois não mais estava cegamente dependente do que nutria. Nós não matamos pessoas, nós mesmos nos matamos e nos destruímos.
   Porém, o que resta dentro de nós é suficientemente forte para nos erguer diante de nossas claras derrotas. Não há escuridão que não possamos iluminar com a simples vontade de querer. Saber lidar com o que não queremos também é querer. E pela primeira vez eu quis. Quis enxergar a chama que me ofuscava transformar minhas cartas em cinzas e sorrir pois o fogo não nos queima a memória. Quis lembrar de todo o princípio, meio e fim. E por fim, para o fim eu quis não ver nunca mais um começo, mas sim os vários que eu poderia criar quando o inacabável terminasse.
   O problema do 'sempre' é apenas a sua efemeridade paradoxal e não a sua provável inexistência. O sempre existe enquanto acredita-se em sua existência. Nós vivemos desses pequenos infinitos, e se não adianta evitar, apenas basta ser.


Andressa Liz
 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Café e Cigarros

Seus beijos tinham gosto
de café e cigarros
tudo que eu amo
ao me perder nos olhos claros
azuis serenos
profundos
perdidos
na noite de lua branca
na praça
na rua
no banco ao teu lado
os cachos dourados
a escapar por entre os dedos
uma vez, um medo
de me perder
e não me encontrar
fugir do tempo
e do lugar
até por fim
ir
se possível
voltar


Andressa Liz

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Juca esperança e a cabra do diabo

   Juca nasceu em uma pequena vila bem no meio do sertão. As rachaduras no chão eram as mesmas das paredes de sua casinha, que dividia com os cinco irmãos, pais e a velha tia. A comida era tão escassa quanto a água e o sol queimava sem piedade. Não sobrevivia gado, nem se cultivava folhas. Todos ali eram tão esquecidos pelo mundo que nem se podia imaginar o que haveria adiante da caatinga morta.
   Juca adorava a sua pequena cabra e fazia todo o esforço para alimentá-la. Era dela que tirava o sustento de toda a família e ajudava o resto da vila a sobreviver. Trocava o leite por feijão, arroz e farinha, com sorte conseguia semana ou outra uma ave magra pro jantar. No mais, ninguém da vila costumava comer todo dia, ou pagar por comida. Ele já havia salvado a vida de muita gente à beira da morte, tudo graças a sua pequena cabra e o queijo que se podia fazer do seu leite. Era pouco, mas o pouco que tinha era muito.
   Pra esquecer a fome, Juca se sentava nos finais de tarde debaixo da árvore retorcida na frente da casinha e escutava os causos que a velha tia contava com uma expressão pesarosa e enlouquecida. A tia de Juca era conhecida pelos outros na vila como velha louca, pois falava coisas tenebrosas e aparentemente sem sentido, havia rumores de que a velha era bruxa, mas Juca sabia que não passava de conversa fiada que batia de casa em casa na pequena vila. A tia era de fato meio dissimulada, mas Juca gostava de ouvir suas histórias e por vezes se questionava se aquilo não poderia ser real. As histórias de lobisomem, chupa-cabra e capeta não o assustavam nenhum pouco. A velha tia falava dos poderes mágicos da besta e Juca imaginava se poderia um dia saber se isso era real, pensava no inferno que a tia descrevia e imagina um lugar parecido com o sertão. Juca não mais rezava, pois nada nunca mudava, não se preocupava em ir pro inferno já que não conseguia pensar em um lugar pior do que o que estava. Ficava imaginando o que poderia fazer para que todo o sofrimento acabasse.
   Conforme os dias se passavam e o verão quente se aproximava a comida ia ficando mais escassa e a temperatura muito mais difícil de suportar. Uns morriam de exaustão, os corpos fracos de inanição. Juca ainda conseguia sustentar a família com a sua cabra que sobrevivia às dificuldades da vida sertaneja e quando podia ajudava os demais. Juca se sentia mal em ver os que tinham ainda menos do que ele sofrerem até a morte lenta chegar.
   Um dia lembrando das histórias que ouvira da tia, decidiu ir até a encruzilhada de madrugada. Esperando alguma criatura mágica aparecer e quem sabe ela sentiria tanta pena de sua história que resolveria ajudar. Ficou lá esperando, a noite quente, a lua grande no céu estrelado, nenhuma brisa e silêncio absoluto. Subitamente uma sombra negra surgiu na frente de Juca. O menino levou um susto, mas logo abriu um sorriso desdentado. A criatura ficou parada diante dele estranhando a reação contraditória do garoto.
- As pessoas não costumam sorrir ao me ver
- Eu sorri porque minha tia num é louca sinhô, ela tava certa quando disse que existia.
- Tu sabe quem eu sou, garoto?
O garoto observou a figura empalidecida, os olhos negros profundos e os chifres protuberantes na cabeça do homem envolto em escuridão.
- É o sinhô que vai ajudar nóis.
O homem riu.
- Ajudar, garoto? Eu não ajudo ninguém.
A esperança do rosto de Juca desapareceu, o olhar agora distante, consternado.
- Então o sinhô num pode fazer nada pra nóis né...
- Já rezou hoje menino? - perguntou o homem rindo ainda mais alto, os olhos enigmáticos.
- Não sinhô, eu já num rezo faz tempo. Antes eu rezava todo dia mas até hoje a gente nunca teve resposta. Se o sinhô lá de cima num pode ajudá nóis, pensei que o sinhô pudesse ajudá.
O homem abriu um sorriso grande
- Talvez eu possa fazer algo por ti
Juca abriu novamente o sorriso banguela. O homem continuou
- Mas tem um preço.
Juca fechou o sorriso, apreensivo
- Mas nóis num tem dinheiro nenhum, nóis num sabe muito sobre dinheiro, é coisa dos homi que aparece vez ou outra pra deixar um pouco de comida, numas carroça de metal grande que carrega mais ar que coisa pra ajudar nóis. Eles num divide o que tem com nóis e temos que se virá.
O homem continuou sorrindo, enigmático
- Eu não quero dinheiro, menino, dinheiro não me serve. Eis aqui minha proposta então. Tu abre mão do que for mais importante pra ti e eu te mostrarei o futuro.
   Abrir mão do que era mas importante para ele. Juca apenas conseguia pensar em sua cabra. Com as últimas esperanças reunidas, ainda que hesitante depositou sua confiança no homem, esperando que o futuro pudesse lhe mostrar alguma solução. O Menino correu rumo a casinha, desamarrou a cabra e a levou ao homem.
   O homem riu ainda mais alto e mostrou para Juca o que ele havia pagado para ver. Juca viu a vila vazia, crânios espalhados pelo chão, alguns poucos corpos se contorcendo, lutando contra os urubus esfomeados, tentando resistir à morte, outros ávidos para que ela chegasse logo. Juca esperançoso tinha acabado de receber um golpe do destino que destruiu toda a esperança que ainda restava. Quando o garoto voltou novamente para a encruzilhada disse indignado para a figura humana escura e com chifres
- Mas isso num é solução
- Eu nunca disse que fosse, garoto. Tu aceitou o acordo que eu tinha a oferecer e pagou para ver o futuro, eu te mostrei. Isso é tudo.
- Mas num é justo, eu dei pro sinhô tudo que eu tinha.
- Quando não tiver mais ninguém em quem confiar, ainda assim não confie no diabo.
   Uma risada precedeu seu sumiço, pairava um cheiro desagradável no ar. Juca não podia acreditar que vendera sua preciosa cabra por um preço tão barato. Tinha vendido sua única real esperança em troca de nada.
   Conforme os dias passavam, Juca viu a morte dos irmãos, dos pais e da velha tia. Sem ter o que comer todos na vila estavam morrendo, ainda mais rápido sem o leite da cabra que os sustentava. Juca não tinha mais o que fazer, padecia embaixo da velha árvore seca sem forças para se mexer. Imóvel, podia ver as feridas assustadoras do seu corpo e a fome que açoitava seu estômago. Delirava de sede sob o sol escaldante enquanto os urubus se agrupavam no céu esperando que sua hora chegasse. Juca também esperava, não pensava nem em céu, nem em inferno, apenas queria sair dali o mais rápido possível e se livrar da dor e do sofrimento.


Andressa Liz

referências:

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A Vida Secreta da Solidão

   Vi a foto antiga do retrato e por pouco não reconheci a pessoa que ali estava, não fosse pelo sorriso e o olhar enigmático. A sordidez da imagem me trazia inquietude envolta na mais profunda melancolia. Já se passaram muitos anos da lembrança do seu rosto fronte à minha face. Avistei o envelope no fundo da gaveta onde encontrei a fotografia, hesitei em pegá-la, mas não resisti.
   Na carta estavam palavras carregadas com a mais cruel das angústias, a de saber que nada poderia ser feito para mudar a situação de uma forma efetiva. As palavras obviamente eram minhas, pois nunca as enviei. Uma lágrima furtiva pendia do meu rosto, forçando seu caminho pela minha face rumo ao chão. Eu não poderia mais voltar ao passado para fazer tudo diferente, e mesmo se pudesse, será que faria alguma diferença? Eram suposições irreais, impossíveis, a menos que se construísse uma máquina do tempo. O fato era que essa máquina do tempo só existia na minha mente, me fazendo imaginar como seriam os dias ao lado da pessoa que eu amei.
   Remoendo a situação, apanhei todos os objetos e os atirei de volta no fundo da gaveta e a fechei rapidamente. Não havia nada que eu pudesse fazer agora, nem nada que pudesse me arrepender a ponto de achar que a vida não merecia ser mais vivida. Era o final, esse era o meu final. Eu ainda resistia viva, carregando lembranças de um passado remoto.
   Coloquei-me de pé diante da escrivaninha, revirei os papeis desorganizados enquanto tentava esvaziar o pensamento. Atravessei o corredor rumo à cozinha em busca de uma xícara de café que me mantinha acordada durante a falta de lucidez. Caminhei rumo à estante de livros, automaticamente. A simples visão das histórias me tranquilizava enquanto o meu pensamento procurava me desesperar. Matar ele já não mais podia.
   Passei o olhos pelos velhos livros empoeirados, no topo de uma pilha desorganizada estava um pequeno livro alaranjado que chamava minha atenção. Eu bem sabia que este livro tinha me transtornado o suficiente para me fazer não esquecer de seu conteúdo. Tirei o de cima da pilha e corri os olhos pelo título "A Metamorfose". Folheei as páginas e pude ver minhas anotações quase apagadas nos cantos da folha. Lembrei do motivo que me fez ler o livro, o mesmo que me afastou dele por tanto tempo. A indicação. Seu conteúdo me transformou secretamente. A metamorfose da minha solidão repugnante para a minha solidão imprescindível.
   Enxerguei ali minha existência, sucedida pelas minhas próprias escolhas. Escolhi amar, escolhi a solidão, a esperança vil se comparada com os sentimentos alheios. Eu não precisava voltar para o quarto, abrir a gaveta e pegar o retrato. A imagem estava clara na minha mente. Um detalhe ínfimo diante da imensidão da vida que havia percorrido até ali, uma lembrança distante de algo constantemente cravado em mim.
   O telefone tocou, levei um tempo para chegar até ele, em parte porque meu pensamento sempre fora mais rápido do que eu. Hesitei antes de puxar do gancho, para mim estava claro quem estava do outro lado da linha. Não temia, mas questionava se era o momento oportuno para atender.
   Atendi.
   A solidão vivia em mim, mas a voz do telefone me disse que não só em mim, mas vivia secretamente em todos nós. Ao saber disso não me senti mais só, mas satisfeita por saber que poderia finalmente me libertar do mal que abraçava.
    Portanto se morremos sós, uma vida solitária terá sido em vão, foi o que a voz do outro lado da linha me disse. Morri então, por não mais me sentir tão só, se a vida valia a pena eu já não mais sabia. Pensei no retrato, pensei na vida, que agora havia se tornado uma lembrança distante. Tentei corresponder aos valores que a morte estipulava, ponderar escolher viver uma vida aparentemente cheia e uma morte vazia, ou ao contrário. Anulei as demais opções, pois agora só havia um caminho a seguir.
   Era o fim da ligação, da vida, da esperança, da alegria, da angústia e da tristeza. Era o meu fim e só permaneceria as consequências de todas as minhas escolhas. Secretamente sobrevivia ali a enigmática solidão, inimiga dos incompreendidos e a paz dos conformados.



Andressa Liz