terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uneverso

As grafias que
rompem as barreiras
da tua galáxia
soam pertinentes como
a anatomia das estrelas
no céu
pontilhadas
onde no descobrir de traços
do teu corpo
imerge um bater de asas
do sufoco
daí surgem as palavras
enquanto tu quando voa
para longe
me leva através
de uma viagem
no tempo
distorcido
através do cosmos.



Andressa Liz

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Estagnada

Não fosse esse amor que inflama
não seria a dor que me chama
para o abismo.
Seriam horas em busca do vazio
em taças cheias de vinho
tão puras quanto o cinismo.
E se aflorassem lágrimas
não seriam tão pesadas
quanto as que carrego
agora
quando vejo teu sorriso
pouco antes da noite
que a mim
e a ti
devora.



Andressa Liz

A um gato - Dedicatória poética



Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és sobre a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende a morosa
Carícia de minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que hora é olvido.
Aceitaste o amor dessa mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.



Jorge Luís Borges


na foto: Dante Alighieri Draculea

domingo, 12 de outubro de 2014

Notas sobre o silêncio

O silêncio do indizível fala tanto quanto as palavras do texto ou a narrativa das imagens. Como em um toque de lábios, troca de olhares, abraços, aperto de mãos. A linguagem palpável é do desejo de estar perto ou da obrigação de parecer estar perto. O silêncio que teima existir afirma nesse exato momento que há muito para ser dito. Contudo o silêncio é tão contraditório que alega ser o que não é, enquanto omissas, as palavras ainda falam. Quando se vive dentro da linguagem, nem mesmo a prevalência do não dito nos permite a sensação de liberdade.



Andressa Liz

Anoitecer

Anoitecer foi escrito
no pesar das lágrimas
e ausências de beijos.
Foi feito no eterno desejo
do efêmero texto
enquanto são lidas as palavras.
E isso que crava
e cria raízes dentro de si
é nada senão amor
que nos perímetros da madrugada
deseja-se afastar do fim.




Andressa Liz

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Apaixonar-se

Como aquela tarde em que me atentei aos teus joelhos
Os fios de cabelo a trespassar por minhas mãos.
não precisava mais enxergar seu rosto ou seu sorriso
os joelhos bastavam.
Foi esse o momento em que me declarei perdida.




Andressa Liz
Fala como quem pensa me seduzir
Com floreios, desejos, sede de mim
Mas a tentativa de agrado
Pertinente
Me soa errado como palavras de amor
Do astuto sedutor que mente
Apenas por pensar em si.





Andressa Liz

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Sempre que chego a um lugar
me sinto à deriva.
Que velha sensação
senão a de jamais pertencer
a lugar algum
na tentativa de pertencer
a todos os lugares.
No entanto, talvez
seja a ambição de pertencer apenas a um lugar
por inteiro.
E o fracasso de se atirar nos abismos
e voltar em pedaços.



Liz

sábado, 4 de outubro de 2014

Do ato de proibir

Infeliz foi aquele
que falou além da boca
e perdeu-se.
Mais infeliz ainda
foi aquele que pensou
além do que temiam.
No entanto,
em sua tristeza
encontrou-se.



Andressa Liz




inspiração: A Vidraça do Amor, Antonin Artaud

Teia

Não aprendi a dizer adeus.
Apenas transito entre as tênues linhas
que nos aproximam e afastam.
A vida é feita de linhas que nos engolem
e nos prendem
bifurcações complexas da memória
em traços débeis,
Depois, em fim nos separam.
Talvez quando lá estiver
eu aprenda a dizer adeus.



Andressa Liz

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Não temos lado certo
ou lado errado
apenas lados que tememos
e outros que simples, agradam



Liz