segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Poeta das Ignorãças

Voava fora da asa
em cada mergulho na poesia.
Ensinava a voz das pedras,
inventava palavras,
e apenas o que era inventado podia ser verdadeiro.
Em sua carapaça de caramujo
enxergava horizontes
nas palavras que tecia sobre incompletudes.
Dizia estar sem eternidades,
mesmo em cada rascunho eternizando-se nas palavras.
Amanhecia folhas
entardecia rios,
como peixe,
morreu passarinho.




Andressa Liz





Manoel de Barros, 19 de dezembro de 1916 - 13 de novembro de 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Então Pronto

Quando escutei os sinos baterem
já percebi que era o outro dia
de ressaca
a única coisa que ouvia
eram gritos
choros.
E me dava conta
de que não poderia
voltar no tempo.
Mas pensei logo que
se o tempo ajudou a construir
talvez o mesmo
ajude a curar.
Desculpas,
eu devia.
Isso é tudo,
mas o perdão
nunca vem de imediato.
Desculpas,
então,
pronto.



Andressa Liz

Submergir sob silêncios em substâncias das estâncias submersas

Aprendi a ter raiva do silêncio
pois na candura das palavras
encontro conforto
Na ausência
eu sinto solidão.
Por isso a candura do silêncio
só existe quando breve
no momento em que olho nos olhos
no momento em que abraço
e me abstenho de palavras.
O silêncio bom quando efêmero
torna-se martírio quando permanece.
As palavras não ditas sufocam,
me fazem preferir a morte pela doença do risco
do que afogada em mágoas e receios
que dentro de nós perecem.



Andressa Liz

sábado, 8 de novembro de 2014

Para amar-me
não poderá
se assustar
com a transparência
da minha alma.


Liz

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Remorso

Meu amor não esperou
de tanto a queimar
virou cinzas.
Eis que o tempo esperava
a mudança que horas não via
e enclausurou-me
nessa dita opressão.
Não se justifica apenas com palavras,
nem sentimentos serão suficientes
É como perder o guarda-chuva
no meio da tempestade
estar ciente
e trair duas vezes o amor
quando delas pouco importa
a verdade.




Andressa Liz