terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O vazio mortífero da arte

   Talvez a arte seja um vazio que preenche as pessoas. Um fruto do nosso esvaziamento como ser se tornando um vazio quando sai de nós e preenche o vazio deixado por ela mesma ao sair. A arte vira vazio e nos deixa um vazio para ser preenchido em um ciclo contínuo, cujo significado muda constantemente conforme seu apreciador. Ela não é nada a não ser uma condição de significados criados por quem sente, portanto é tudo que nos resta e talvez tudo que somos mesmo sem saber.
   É como observar um quadro que o artista pintou por anos consecutivos e se sentir parte dele, mesmo sem sentir o que o artista sentiu ao pintá-lo, depois derramar um mar de sentimentos em cima de um texto, de um filme, de uma música, de uma prática diária, ou de qualquer maneira possível de nos descarregar, ou vice versa. É um looping de nossas manifestações como seres humanos, mortífera e crucial, nos matando e nos revivendo sempre.
   A arte condena todos os nossos supostos limites e somos obrigados a lidar com tudo de forma inteira e completa, somos obrigados a nos enxergar e despejar aquilo que nós somos em uma prateleira exposta, mesmo sem saber que o fazemos. Para viver é necessário saber que temos que morrer durante o processo.
   Afinal o que seria de uma vida meio viva ou uma morte meio morta, para se viver é preciso morrer e para morrer é preciso viver. O que usamos nesse processo é a arte do esvaziamento para criar grandes substâncias e nos mantermos nesse ciclo contínuo de início e fim, vida e morte, não necessariamente nessa ordem. 


Andressa Liz
     

31 de Dezembro

   Ali eu estava, no último dia do ano, tentando chegar a alguma última conclusão como se isso fosse aliviar minha angústia transitória, que insistia em continuar agarrada a mim não importava quantos anos passassem.  
Foi aí que minha tia chegou, com duas pessoas em seus calcanhares, um moço e uma moça. Fiquei ali observando aquelas personas desconhecidas como se elas tivessem entrado em território proibido como intrusas. Minha tia adiantou-se:
- Olha só como ela ta grande! Cê tinha visto ela quando era bem pequenininha né, tinha só um aninho, e ceis eram bem pequenos né.
   Foi a partir daí que se iniciou a troca de cumprimentos e comentários de anos atrás que poderia jurar que eram mentira se eu pudesse me lembrar algo de fato. Mas aí que está o grande ás da história, estava ali sem entender nada, cumprimentando pessoas que não conhecia dizendo que me viram quando eu era bem nova. 
   Fiquei ali pensando, fones no ouvido, porque esse simples acontecimento casual me incomodava tanto. Não descobri ao certo o porquê, mas reunir parentes longínquos no último dia do ano parece ser algo bem comum e é o único dia no ano todo que todos se tratam como parentes conhecidos de longa data, um pretexto para reunir toda a família e iniciar aqueles comentários de anos e anos atrás sobre coisas que ninguém mais se recorda ou se interessa, só pra jogar conversa fora mesmo, não há nada além pra falar. 
   O último dia do ano é pretexto pra todo mundo se reunir, para eventualmente se separar. Ir criando esperanças de que tudo vai ser diferente mas ainda assim finalizando sempre da mesma forma. Se os anos fossem de fato diferentes imagino que os finais não seriam da mesma forma todos os anos, mas insistimos sempre em fazer as mesmas coisas por mais que tenhamos nos tornado pessoas diferentes. 
   Não há nada pra se fazer além de ser nós mesmos, olhava todas aquelas pessoas desconhecidas na casa e ficava no meu canto, não porque fossem más pessoas, mas o contato com elas me irritava e angustiava. Nunca estamos sempre perto das pessoas que estimamos afinal, que passaram os dias próximos de nós e se distanciaram em datas que reúnem pessoas.
    Claro que nem todos se vão, uns ficam, alguns fisicamente e outros apenas ali na memória. A gente se lembra do dia a dia e pensa no tanto de coisa que aconteceu que não envolvia acontecimentos de décadas atrás que seus parentes fazem questão de sempre lembrar, e ainda comentar o quanto você cresceu ou está mudado. Conversa fiada sem valor nenhum. 
    E ali no vazio da consciência a gente tenta automaticamente lembrar de tudo e desejar que aquilo volte, mas é apenas um vazio. O calendário nos proporciona essa nostalgia limitada pelos 365 dias do ano, como se tivéssemos sempre um prazo de fim e renovação. A questão é que o fim e o começo independe dos dias do calendário.
   Por isso, eu vos digo que estou começando esse ano pelo fim, justamente pra esperar que o próximo começo seja diferente de tudo que supostamente limitava meu "ano novo" com conversas fiadas de tempos atrás perdidas em diálogos entediantes de lembranças remotas de coisas que já morreram com a gente junto do passado.
   Feliz ano novo pra todos que tentam ainda recomeçar do zero a partir da marcação do dia 1 do calendário, criando pretextos de recomeço para iniciar as mudanças prometidas por todo o ano, acúmulos de décadas atrás, talvez os parentes tenham razão afinal. Agora eu realmente desejo um ótimo feliz ano velho, desesperançosa, para todos que também pensam que esse ano novo mascara todos os fins. Enquanto isso a gente fica aqui comendo pratos de comida e olhando pro céu iluminado pelos fogos brindando taças de champagne, esperando que a esperança de que a marcação do 1 no calendário nos empanturre mais que a comida e ascenda uma faísca de renovação não só nos céus, mas sim dentro de nós. Claro que com o álcool fica mais fácil acreditar nisso, aí a função da cerveja, do vinho e do champagne indispensável no fim de ano. Acho bobagem, mas é o que se tem para acreditar.


Andressa Liz

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Um poema diz mais sobre o autor do que você imagina
e menos do que você deve imaginar que sabe

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

On the Road

Song by Liz

Here we are
Driving in an old car
whithout worrying
Guided by the stars

Here we go
Through montains on the road
Chasing our
Sweet missing home

Let's take the road
Oh yes!
Where sadness can't take us
I swear!
Let's take the road
To nowhere
Whithout the fear of getting there

You can touch the sky
blue up so high
Watching clouds
Passing fastly by

But life is short
And living it is hard
The past is heavy
and so it is our heart

Let's take the road
Oh yes!
Where future is waiting us
I swear!
Let's take the road
To nowhere
Knowing how we will get there


But if your eyes can't see
anything but darkness
close then
and feel
the end is right
in the start

So let's take the road
whithout knowing where it goes
Let's take the road
Carrying nothing with us
just hope.


Andressa Liz

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Prefiro pedir licenças poéticas
me parece mais adequado
e educado.

Andressa Liz
Amora
   Amor
      Mora

não em Roma
mas no meu coração.
                        Aroma
de rosas
no
chão.


Andressa Liz

sábado, 21 de dezembro de 2013

Tento sem sucesso fazer com que alguma palavra minha chegue aos seus olhos ou ouvidos. Mas elas não chegam. Em desespero olho para o céu e grito, esperando que talvez ele possa guiar minha voz e meus sentimentos até você. Silêncio absoluto, fico imaginando se a mensagem chegou.


Andressa Liz

Metamorfose

Antes eu sou um inseto monstruoso
metamorfoseado em humano
pela necessidade de viver
em um mundo como esse.
Humano o que?
O que somos eu prefiro não ser
o gelo dentro de mim foi quebrado
pela angústia
da repugnância que os outros têm
de sentir
antes de ter.



Andressa Liz

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Se tu some
pra manter a chama da saudade
saiba que já peguei fogo
e agora sou cinzas

Andressa Liz

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Mais um dia que morri

A angústia transforma minha vida em solidão
E se não posso curá-la,
ao menos posso transformá-la em arte,
de tantas dúvidas, minha única decisão
aliviar a tristeza que bate
Possivelmente loucura.
A essa altura,
a sanidade é o preço que se paga
quando se escolhe amar
e o medo da desgraça vem de brinde,
devagar.
Já não sei se devo me adequar
ou acreditar em uma duvidosa felicidade.
Eis aqui minhas tágicas possibilidades
Arriscar grandes acontecimentos  por possíveis ilusões
e profundos sentimentos por mortíferas frustrações.
Confio minha mente ao coração,
por suas vezes traidor,
e confino minha esperança, num quarto escuro de dor
Acredito num futuro por suas vezes promissor
Mas padeço diariamente por ainda acreditar no amor.

Andressa Liz

domingo, 15 de dezembro de 2013

Capital Interior

Brasília
qual é sua identidade?
capital interior.
Anuncio
com muita dor
seu vazio como cidade
que ainda assim deixará sua marca
em quem vier e em quem for.
E assim, com saudade,
a gente lembra da cidade
vazia,
sem identidade,
sem amor
e da minha teoria
capital interior



Andressa Liz

Jogador

Astuto jogador
move as peças com cautela
e eu da janela
observo ir embora
o silêncio que devora
o teu beijo
e meu amor.


Andressa Liz

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Tu e eu
podia acontecer
mas não aconteceu.

Só pra dizer
que ainda é sonho meu

Andressa Liz

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Tu aí perdido e eu aqui
perdida em ti.


Andressa Liz

domingo, 8 de dezembro de 2013

Meritocracia

A meritocracia funciona assim: só aquele que se esforça merece ter.
Imagino então como as pessoas dizem que amam
se preferem comprar o amor
com dinheiro
pra receber um favor
por inteiro.

Já eu prefiro deixar claro que prefiro colocar valores ao invés de preços


Andressa Liz
Por trás de cada poesia exageradamente bonita
há um significado exageradamente triste
ou poucas palavras,
e muitos sentimentos.
Sempre assim.

Andressa Liz

Sonhos e Poesias

Os sonhos que sonhamos
e a realidade que vivemos
podem ser paralelos
e nunca se encontrarem,
mas pra isso ainda há a poesia
já que nela não há um muro que separe
o sonho do real.


Andressa Liz
Volta e meia eu meio volto
mas não te encontro lá.


Andressa Liz
E na vontade de querer ser tudo
e não poder
Decidi então ser artista.


Andressa Liz

Sonhos de Opala

Sonhei em cores,
mas o mundo a minha volta empalidecia,
eu me perdia dentro dos meus sonhos.
Os seus olhos eram chamas
que me consumiam.
Eu não podia fechar os meus
e me sentir segura.

Meu medo tingia de preto
as cores que enxergava,
Não adiantava abrir os olhos,
não há mais distinção
da realidade
eternamente perdida
em meus desejos.


Andressa Liz


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Exatas

Graças à biologia descobri que me afoguei dentro dos 70% de água do meu próprio organismo.
Não satisfeita com isso, graças à química transformei em álcool,
pude calcular que tenho vários problemas sem solução com a ajuda da matemática
e descobri que a probabilidade de eu pertencer a esse mundo é quase nula,
portanto segundo a física eu sou a própria teoria do caos.
Devo essas inspirações às exatas, apesar de não terem me ajudado exatamente em nada.

Andressa Liz

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A culpa é do céu

Tem um moço que gosto muito
não é amigo do tempo
e em cada detalhe presto atenção
mas não sou muito atenta.
Bem tento proferir um não,
incapaz
meu orgulho se desfaz.
Volta, volta - eu peço
Lembra de mim
ou me despeço.
Mas não é assim
chega devagar
e eu ainda deixo entrar.
O céu devora
no fim
e o azul se perde no infinito
eu olho pro moço
e grito
NÃO
não esquece de mim
o moço vira,
me da um abraço
olha nos olhos cor de menta
e sua voz é uma serenata
perdida nas minhas canções.
Como ainda me aguenta? - questiono
Se dá um beijo eu desmorono
Mas na sinfonia o maestro é o silêncio
e eu penso
Ainda tem mais, ainda tem mais
Olho pro céu
incapaz de voar,
mas quando olho pro chão
já estou distante demais.
MOÇO, SOCORRO! - grito
Mas ele não escuta
E agora como eu faço pra voltar?
Fecho os olhos,
abro e não vejo nada
Ué foi só um sonho?
O moço sumiu
e esqueceu de levar meu coração
avisto à distância
ESPERA ESPERA - grito em vão
OLHA AQUI O QUE ESQUECEU!
Olho para as mãos
estão vazias
volto meu olhar
o moço não está mais lá
Desesperada olho para o céu,
e vejo que ele roubou
o moço
e meu coração.



Andressa Liz