terça-feira, 14 de outubro de 2014

A um gato - Dedicatória poética



Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és sobre a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende a morosa
Carícia de minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que hora é olvido.
Aceitaste o amor dessa mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.



Jorge Luís Borges


na foto: Dante Alighieri Draculea

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