quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Dias Improdutivos

Os últimos meses foram de desapontamento e frustração. Aqueles dias que você olha pro horizonte e não vê uma continuação, como se acabasse ali e de repente a Terra não fosse mais redonda como uma laranja e sim achatada, com uma cachoeira que chegasse ao fim. O curioso é que não se podia ver o fim, mas parecia cada vez mais próximo. E que fim seria esse? Não sei, não sei, só sei que por ser um fim eu não queria chegar nele.
Dias inteiros ordinários, sem cores, sem nada. Não chovia, não fazia frio, não fazia calor, não tinha poesia e as palavras fluíam semana sim, semana não, sem nenhuma grande ideia. Vontades, desejos, incertezas, reflexões não faltavam, faltava inspiração, faltava pessoas, faltava coragem para arrancar uma folha do final do caderno e começar a esboçar um roteiro.
Mas não adianta, não adianta. Tem dias que não se consegue produzir nada, faltam diálogos, faltam palavras. Dias em que apenas se pode observar a paisagem passando ligeira pela janela do ônibus e as pessoas paradas sem expressão observando o mundo correndo lá fora. Tem dias que a única música que se escuta é a do silêncio, quando esqueço os fones de ouvido, um tanto enjoativa em adição à esse sentimento trivial de desgosto pela vida. Parece que todos no ônibus compartilham do mesmo sentimento. Ou isso, ou é a falta de diálogo.
As distâncias são muito maiores quando não discutimos as banalidades da vida com algum conhecido durante o caminho. Monotonia extrema. Cansa tanto essa pressão de não poder se libertar de tudo desagradável para então produzir arte, e o paradoxo de não conseguir fazer nada útil para poder futuramente se libertar de tudo desagradável para então produzir arte. 
É cansaço da vida, cansaço de final de ano, cansaço da falta de contato com a felicidade, que anda morando longe. É falta de arte, de diálogo, de poesia. É falta de sentimento. É a obrigação de aceitar tudo isso da forma que é. Todo mundo fingindo que tudo está certo da forma que está, mas algo deve estar muito errado por aqui. 


Andressa Liz

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