terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O vazio mortífero da arte

   Talvez a arte seja um vazio que preenche as pessoas. Um fruto do nosso esvaziamento como ser se tornando um vazio quando sai de nós e preenche o vazio deixado por ela mesma ao sair. A arte vira vazio e nos deixa um vazio para ser preenchido em um ciclo contínuo, cujo significado muda constantemente conforme seu apreciador. Ela não é nada a não ser uma condição de significados criados por quem sente, portanto é tudo que nos resta e talvez tudo que somos mesmo sem saber.
   É como observar um quadro que o artista pintou por anos consecutivos e se sentir parte dele, mesmo sem sentir o que o artista sentiu ao pintá-lo, depois derramar um mar de sentimentos em cima de um texto, de um filme, de uma música, de uma prática diária, ou de qualquer maneira possível de nos descarregar, ou vice versa. É um looping de nossas manifestações como seres humanos, mortífera e crucial, nos matando e nos revivendo sempre.
   A arte condena todos os nossos supostos limites e somos obrigados a lidar com tudo de forma inteira e completa, somos obrigados a nos enxergar e despejar aquilo que nós somos em uma prateleira exposta, mesmo sem saber que o fazemos. Para viver é necessário saber que temos que morrer durante o processo.
   Afinal o que seria de uma vida meio viva ou uma morte meio morta, para se viver é preciso morrer e para morrer é preciso viver. O que usamos nesse processo é a arte do esvaziamento para criar grandes substâncias e nos mantermos nesse ciclo contínuo de início e fim, vida e morte, não necessariamente nessa ordem. 


Andressa Liz
     

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