domingo, 24 de agosto de 2014

Solilóquio

   Hoje me atentei aos detalhes do lapso de comunicação e em como todos sempre tem muito a dizer e pouco a ouvir. Praticamente ninguém nunca se dispõe a aguçar os ouvidos pro que o outro tem a dizer e sutilmente as conversas viram meros discursos banais e insossos que, em um próximo momento, ninguem mais dialoga. Nos atentamos aos discursos corriqueiros e isso nos frustra. A atenção não está nas palavras.
   Todos consentiriam com a nova forma do fascismo cosmético sem mesmo saber do que o assunto se trata. Logo mais a sinceridade se torna inconveniente, a forma de pensar e o que se é acaba se perdendo no processo do esvaziamento. A opinião se torna ofensa e a sinceridade um disparate pra guerra. Na totalidade todos acabam perdendo durante o processo ainda que haja um vencedor.
    As discussões ideológicas despertam o ódio ao invés da mudança ainda que instiguem o necessário. Olhamos para pessoas com medo de feri-las com palavras porque nos importamos, e no fim os sacrifícios viram mártir pra nós mesmos. Ninguém se importa com a importância dada. Ninguém se importa com as palavras e nem com o poder do diálogo, ninguém busca por respostas e nem mesmo por sentimentos. Ninguém se dispõe a sair da condição masoquista pra pensar em algo que não se resuma a si mesmo e na dor abstrata egocêntrica. Ninguém mais arrisca demonstrar o que sente ou ter a veemência da sinceridade.
   Os poucos que o fazem estão perdendo a comunicação, entrando em extinção. Há o medo que permeia a instabilidade e me faz voltar pra caverna, para posteriormente reunir forças pra tentar sair e buscar novamente um ponto de esperança. A angústia que coexiste com nossos dias é apenas resultante da melancolia que nós mesmos criamos. Há quem busque algo a mais e isso sempre será admirável, mas já esperar demais se torna um martírio inconveniente enquanto sobrevivemos de esmolas.


Andressa Liz

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