quinta-feira, 8 de junho de 2023

Lugares para ser aquilo que não se é

 Essa sou eu para ti

Uma ninfa angustiada

Refém da própria natureza.

Uma louca desvairada

que clama por incertezas.

Insuficiente demais,

demasiada demais

Um caos que transborda

lágrimas em diversas cores.

Uma dentre várias flores

carregando seus próprios tons de melancolia.

Um raiar fulminante que procuras nos teus dias

E um aconchego noturno para firmar tuas carícias.

O conforto de um corpo que têm tudo a perder,

refém dos próprios sentimentos, nua

que em uma noite soturna,

troca inseguranças por descontentos, 

em cada palavra que omite dizer.

Não me encaixo na sua vida,

Sou apenas uma longa despedida,

como um sonho em uma noite de verão

Uma pobre tragédia em construção,

frágil e transparente como vidro.

Uma mulher fadada ao destino de Ofélia

fazendo do rio um leito para o seu coração partido

conduzindo uma morte lenta entre lírios.

De fronte ao céu uma jovem bela

Em seu verso, a alma de uma velha

Eternizando assim, seu cruel martírio.


Poderia ser poético,

mas também não me encaixo na sua poesia,

pois o que buscas

está distante de mim

e da nossa maresia.

Soa patético,

mas sei que é o que importa

no fim.

Esforços em vão buscam por alguma resposta.

não há paixão em um insosso contento,

pois só vivemos por aquilo que nos destroça

por dentro.

E essa não sou eu para ti.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Efêmero Eterno

O meu problema é que não sou a pessoa que fica e nem a pessoa que vai

Sou o meio termo

Sol nascente e poente

Alguém que dura a efemeridade de apenas um momento

E a sua eternidade.



Andressa Liz

Livre

 Eu quero ser uma pessoa livre,

mas não quero qualquer liberdade,

quero uma liberdade que seja inventada por mim.

Eu quero ser amiga da solidão,

mas não de qualquer solidão,

quero uma solidão que seja inventada pela minha liberdade.

Quando a liberdade não nos cabe, precisamos inventá-la.


Andressa Liz

Still Life


I am a misguided ancient soul
lost in my own time
like a memory of something that
never was
a young girl inside
an old woman
with desire to live and
the sadness to die.
I carry in my mind the canvas of
a fleeting life
in my heart the frame of
an eternal death
A still life painting hanging on the wall.


Andressa Liz

Image: A Still Life with a Pomegranate and Other Fruits by Laurens Craen, Sec XVII

Assim na Terra como no Inferno

 

Devo ter medo de ti, mas é a tua voz que me acolhe em uma noite de inverno.
Devo ter medo de ti, mas é tu quem me confortas em um mundo que me engole.
Devo ter medo de ti, mas é tua verdade que me desnuda a alma e a queima no inferno.
Devo ter medo de ti, mas é nesse inferno que renasço enquanto as chamas me consomem.
Devo ter medo de ti, mas é tua escuridão que me envolve em um beijo terno.
Devo ter medo de ti, mas de tudo ao meu redor que apodrece, és tu quem me habitas, me profanas e me despertas.
Devo ter medo de ti, mas nessas trevas me encontro, em ti, mortal e eterno.


Andressa Liz

Ghost

I am a ghost
I sneak around the corners
I cling to objects
I haunt people.
During the early morning
I burst into tears
I materialize
I undo myself
Dying
In despair.
I'm memory
I'm a story
Or a reverie,
Someone's exaggeration
With some fear.
But for attentive eyes
I occupy spaces where there is
no one.
If I exist or
I do not exist
It depends on a point of view.
Even for the most skeptical eye
I'll always be a flea behind the ear
A Nightmare's night
Or a daily souvenir
Attached to problems
Or to moments
A regret
A sigh
A whisper
Or someone's fragment



Andressa Liz

Autorretrato de uma identidade dissidente

Nunca fui boa em desenhar retas e rotas, listas ou metas.
Sempre estou a deriva ou a mercê da vontade do mar
Ou da vontade de amar, cada dia algo diferente
Não suporto metades
Nem fantasias,
Nem pessoas em demasia.
Não carrego fé dentro de mim,
Mas deposito nas coisas mais triviais da vida.
Sinto-me constantemente buscando algo e também constantemente perdida.
As vezes olhar através da janela me consola,
As vezes as noites virando dias me destroem,
Tentar fechar os olhos nunca funciona
Eu sei que não sou capaz de acalmar as chamas que me consomem.
Hoje sei que viradas do tempo são apenas os ponteiros do relógio
Anunciando uma finitude pontual
E ainda assim me dói tanto...
Mesmo eu sendo mais paciente que ontem
Não saber esperar, sempre foi o meu mal.
Carrego esperanças em algo que eu desconheço
Apesar de buscar estar sempre certa,
talvez espero mais que tudo estar errada a respeito de mim mesma.
A verdade é que nessas buscas encontro apenas desespero,
Pois tenho medo de não ver o futuro, ao mesmo tempo em que sou grata por ser impossível de prevê-lo.
As vezes não é necessário apertar o passo quando mais sinto necessidade de correr.
As vezes não é preciso ocupar um espaço
Ou buscar algum porquê.
Digo todas essas coisas pra mim, mas tenho uma imensa dificuldade em entendê-las,
Espero que a esperança baste para me manter adiante
E que nessa desordem constante
perdurem as coisas efêmeras.


Andressa Liz