domingo, 6 de abril de 2014

Os (nem tão) sutis anos que passam...

Vejo o dia, o tempo, o documento apontando minha mais nova idade, supostamente uma mudança brusca na vida dado os 18 anos que se concretizam agora. O que muda? Os cigarros que posso fumar para espantar o martírio do tempo fugaz como a fumaça do trago? A bebida que posso ingerir para afogar meu organismo mal metabolizado em uma poça de álcool, vinho, whisky, cerveja, a escolher? A responsabilidade que nos habilita adquirir direitos obrigatórios como cidadãos feitos?
O feitio da vida longe está de ser apenas uma data memorável, mas sim os anos que passam rápido em piscar de olhos. Os amores indigestos que nos perturbam nas madrugadas boêmias agora totalmente legalizadas por uma simples diferença de unidade na casa decimal. Sinto a essência do querer e poder, sutil, disfarçada com o embargo da consciência. Ah, essa vida sequelada de devaneios obscuros e agora concretizados. Não há diferenças marcantes da noite pro dia sentimentalmente perceptíveis, talvez pela instabilidade.
A distância nos afeta, curta no tempo ligeiro. Me faz ansiar, mais e mais para que passe. Sinto uma enorme vontade de envelhecer e ao mesmo tempo medo, medo do que o futuro e sabedoria nos proporciona. Os anos correm como balas que atravessam nossos corpos, cérebros, corações e nos deterioram a alma. Buracos profundos cravejados de estilhaço com sangue vermelho a escorrer. Sangramos aqui dentro e o mundo sangra lá fora. Nós, perdidos na noite, jovens astutos demasiado verdes, portanto amargos.
Há quem diga que a idade nos faz sábios, nos traz mudanças, nos acolhe com abraços e beijos e nos separam com empurrões e escarros. Escárnio da vida que abusa do nosso eterno defeito de não saber lidar com intermediários, futuros e equilíbrios.
Posso devanear a vontade agora, digerindo toda essa melancolia que vem de brinde junto com os cartões de parabenização e feliz aniversário. As mudanças veremos ao longo dos dias, umas felizes, outras nem tanto. Enquanto isso o sentimento ranzinza aflora sutil e intrinsecamente. No aguardo do que mais posso absorver desse disparar do relógio.


Andressa Liz 06/04/1996

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