Dias inteiros ordinários, sem cores, sem nada. Não chovia, não fazia frio, não fazia calor, não tinha poesia e as palavras fluíam semana sim, semana não, sem nenhuma grande ideia. Vontades, desejos, incertezas, reflexões não faltavam, faltava inspiração, faltava pessoas, faltava coragem para arrancar uma folha do final do caderno e começar a esboçar um roteiro.
Mas não adianta, não adianta. Tem dias que não se consegue produzir nada, faltam diálogos, faltam palavras. Dias em que apenas se pode observar a paisagem passando ligeira pela janela do ônibus e as pessoas paradas sem expressão observando o mundo correndo lá fora. Tem dias que a única música que se escuta é a do silêncio, quando esqueço os fones de ouvido, um tanto enjoativa em adição à esse sentimento trivial de desgosto pela vida. Parece que todos no ônibus compartilham do mesmo sentimento. Ou isso, ou é a falta de diálogo.
As distâncias são muito maiores quando não discutimos as banalidades da vida com algum conhecido durante o caminho. Monotonia extrema. Cansa tanto essa pressão de não poder se libertar de tudo desagradável para então produzir arte, e o paradoxo de não conseguir fazer nada útil para poder futuramente se libertar de tudo desagradável para então produzir arte.
É cansaço da vida, cansaço de final de ano, cansaço da falta de contato com a felicidade, que anda morando longe. É falta de arte, de diálogo, de poesia. É falta de sentimento. É a obrigação de aceitar tudo isso da forma que é. Todo mundo fingindo que tudo está certo da forma que está, mas algo deve estar muito errado por aqui.
Andressa Liz